Deus é grande (Dt 7.21; Ne 4.14; Sl 48.1; 86.10; 95.3; 145.3; Dn 9.4), maior que a nossa capacidade de entender. A teologia afirma essa verdade, descrevendo-o como “incompreensível” – não que ele seja irracional ou ilógico, para impedir-nos de seguir os seus pensamentos, absolutamente, mas para dizer-nos que nossas mentes não podem compreendê-lo porque ele é infinito e nós, finitos. As
Escrituras retratam Deus com quem habita não só em trevas densas e impenetráveis, mas também em luz inacessível (Sl 97.2; 1Tm 6.16). Essas duas imagens expressam o mesmo pensamento: nosso Criador está acima de nós, e medi-lo está além do nosso poder.
Deus nos diz na Bíblia que a criação, a providência, a Trindade, a encarnação, a obra regeneradora do Espírito, a união com Cristo em sua morte e ressurreição e a inspiração das Escrituras – para mencionar apenas alguns – são fatos, e nós aceitamos com base na sua palavra, sem saber como tudo isso pode ser. Como criaturas, somos incapazes de compreender plenamente tanto o ser quanto as ações do Criador.
Contudo, assim como seria errado supor que sabemos tudo sobre Deus (e desse modo aprisioná-lo no estojo da nossa própria limitada noção a respeito dele), seria errado também duvidar que o nosso conceito sobre Deus constitua um real conhecimento dele. Uma das consequencias de termos sido feitos à imagem de Deus é que nós somos capazes tanto de conhecer a respeito dele como de conhecer a ele próprio relacionalmente de um modo verdadeiro, embora limitado. Calvino fala de Deus dizendo que ele condescende com as nossas fraquezas e acomoda-se à nossa incapacidade, tanto na inspiração das Escrituras como na encarnação de seu Filho, com o objetivo de permitir-nos genuína compreensão a seu respeito. Por analogia, a forma e a substância da linguagem dos pais, quando falam com a criança, não se comparam com o pleno conteúdo da mente dos pais, quando se expressam em conversações com outro adulto; porém ainda assim, mesmo com a linguagem infantil, a criança recebe verdadeira informação a respeito dos pais e responde com crescente amor e confiança.
Esta é a razão pela qual o Criador se apresenta para nós antropomorficamente, como tendo rosto (Ex 33.11), ouvidos (Ne 1.6) e olhos (Jó 28.10); ou como tendo pés (Na 1.3), sentando-se sobre um trono (1Rs 22.19), voando nas asas do vento (Sl 18.10) ou combatendo em batalhas (2Cr 32.8; Is 63.1-6). Estas não são descrições daquilo que Deus é em si mesmo, mas daquilo que ele é para nós: o SENHOR transcendente que se relaciona com o seu povo como Pai e Amigo. Deus vem até nós dessa maneira para nos conquistar em amor e confiança, mesmo que, de certo modo, sejamos sempre crianças e entendamos só em parte (1Co 13.12).
Nunca devemos esquecer que o propósito da teologia é a doxologia; estudamos com o objetivo de louvar. O culto será sempre a mais verdadeira expressão de confiança em Deus, e será sempre culto adequado a Deus louvá-lo por ele ser maior do que nossa compreensão.
Fone: A Bíblia de Estudo de Genebra